Você já se pegou divagando, hoje? Já passou por aquela reunião em que, do nada, você estava pensando em algo totalmente diferente daquilo que era discutido? Já tentou escrever aquele relatório importante, mas sua mente insistia em trazer à tona assuntos totalmente diversos do tema do relatório? Pois é… se respondeu sim, não se desespere, muitos de nós (eu me incluo aí) enfrentamos essa falta de atenção que nos tira de nossa órbita, sem qualquer aviso. Essa falta de atenção é chamada de divagação da mente, que é a experiência de pensamentos diversos do seu foco de atenção; é quando a sua atenção varia com o tempo, desviando-se da atividade em que você está envolvido. Mas o que a ciência tem a dizer?
A Ciência Atenta à Falta de Atenção
Michael Kane, um psicólogo da Universidade da Carolina do Norte, Greensboro, Estados Unidos, liderou uma pesquisa para verificar os pensamentos dos alunos, oito vezes ao dia, durante uma semana. Ele descobriu que, em média, eles estavam, em 30% do tempo, pensando em algo diferente daquilo que estavam fazendo.
Uma tarefa comum, que exige concentração, é a leitura e, segundo o professor Jonathan Schooler, da Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver, Canadá, a mente das pessoas divaga de 15 a 20% do tempo enquanto leem e, geralmente, as pessoas não percebem isso. Uma outra pesquisa, liderada também pelo professor Jonathan Schooler, encontrou uma relação negativa entre atenção plena e desempenho criativo em geral, ou seja, divagar é bom para a criatividade; no entanto, os participantes mais atentos tiveram um desempenho melhor quando instruídos a abordar problemas analiticamente.
Outra informação interessante vem da Universidade de Harvard, Estados Unidos, de um estudo de Matthew A Killingsworth , Daniel T Gilbert. Eles desenvolveram uma tecnologia para smartphones para testar os pensamentos, sentimentos e ações das pessoas, e descobriram que as pessoas pensam sobre o que não estão fazendo quase tão frequentemente quanto pensam sobre o que estão fazendo, e mais, descobriram que isso geralmente as deixam infelizes; ou seja, tomar consciência de que você não está se concentrado no que deve fazer, o deixa triste.
Como Evitar a Divagação da Mente
Para sermos mais produtivos, evitando a divagação da mente, algumas medidas podem ser tomadas, entre elas, podemos citar:
- Respeite o ritmo do seu corpo e programe suas atividades de acordo: algumas pessoas são matutinas, mais produtivas e atentas pela manhã, outras, vespertinas, mais produtivas e atentas à tarde. Então, procure programar suas atividades de acordo com isso, dessa forma, você tende a estar no seu melhor estado físico e mental, no momento que mais precisa. Por exemplo, se você se concentrar melhor pela manhã, tente usar esse tempo para as atividades de projeto, ou de planejamento, pois, à tarde, elas podem parecer desgastantes demais; e o contrário é verdadeiro.
- Desconecte-se e esconda seu smartphone: segundo um estudo conduzido pelos pesquisadores Adrian F. Ward, Kristen Duke, Ayelet Gneezy, e Maarten W. Bos, intitulado Brain Drain: The Mere Presence of One’s Own Smartphone Reduces Available Cognitive Capacity, e publicado em 2017, a mera presença do seu smartphone, ainda que ele esteja desligado, reduz a sua capacidade cognitiva disponível (processo mental que leva ao conhecimento), pelo fato de você dedicar parte de sua capacidade cognitiva para resistir a ele. Os autores do estudo chamam isso de “drenagem cerebral”. Segundo os pesquisadores, simplesmente desligar as notificações ou colocar o telefone no modo avião não vai funcionar. Você precisa deixar seu smartphone em um lugar que exija algum esforço para pegá-lo, por exemplo, dentro de seu carro. No começo, você estranhará, mas a tendência é que, com o tempo você acabará esquecendo dele, ficando mais envolvido em sua tarefa. Isso parece radical, mas é a maneira de, realmente, se concentrar e se manter focado no que você está fazendo. “Ah…mas, eu não posso! Preciso estar conectado!”. Aí, então, vai ter que conviver com o ônus disso… Mas, ainda que não possa fazê-lo no dia a dia, experimente isso nos treinamentos que realizar, reuniões muito importantes, projetos sensíveis, etc, tomando o cuidado de avisar as pessoas-chave de que você estará, durante esse tempo, desconectado.
- Cancele as notificações de email: os emails são um caso clássico de improdutividade (quando mal usados, o que, infelizmente, é a grande maioria dos casos). Desse modo, para evitar a distração pelos avisos de chegada de email, desligue-os. E mais, reserve determinados momentos do dia para acessá-los e respondê-los. Em nenhuma Organização que se preze, emails deveriam ser urgentes, pois, quando o assunto é urgente, o email deve ser acompanhado de um telefonema direto no ramal da pessoa que deve tomar a tal ação urgente.
- Resuma o assunto com frequência: uma maneira muito eficiente de manter sua mente focada é fazer resumos frequentes. Por exemplo, imagine que você está em um treinamento, reunião ou palestra, então, para manter o foco, faça, a cada 5 minutos, um resumo do que está sendo falado ou discutido. O fato de você se testar com frequência, não apenas vai deixar você mais focado, mas vai permitir memorizar o conteúdo tratado com muito mais eficácia.
- Aceite que você não pode mudar o passado: se ocorreram coisas que te chatearam, ou se você cometeu algum erro (fazemos isso a todo instante), tire lições disso, aprenda o que for possível com a experiência, e siga em frente. Não deixe que o passado faça sua mente divagar no seu presente.
- Faça intervalos ocasionais: segundo o psicólogo Paul Seli, da Universidade de Harvard, Estados Unidos, parar de vez em quando para dar uma oportunidade à sua mente, pensando em outra coisa, e retornando depois, pode revigorar o foco.
- Durma bem: a falta de sono prejudica o desempenho mental em geral, e um estudo da Universidade do Texas, Estados Unidos, mostrou que a privação do sono reduz nossa capacidade de resistir a distrações, internas e externas. Ademais, o sono também é importante para a consolidação da memória.
- Rabisque: isso mesmo, em um estudo publicado em 2009, 40 participantes monitoraram uma mensagem telefônica falsa e enfadonha, com nomes de pessoas que compareceriam a uma festa. Metade do grupo foi aleatoriamente designada para “rabiscar”, sombreando formas impressas, enquanto ouviam as chamadas telefônicas. O grupo que “rabiscou” durante o teste, teve um desempenho melhor na tarefa de monitoramento das mensagens, e lembrou 29% mais informações, que o outro grupo. Ao contrário de muitas situações de dupla tarefa, o fato de rabiscar durante o trabalho pode ser benéfico.
A divagação da mente, que nos tira a atenção e nos desconcentra, como vimos aqui, não é sempre ruim, pois, enquanto ela pode ser um dificultador dos trabalhos racionais e analíticos, que exigem foco e atenção, pode ser boa para a criatividade. O desafio é controlar a divagação da mente, evitando-a em trabalhos que exigem atenção (que é o caso geral), e deixando-a fluir em trabalhos criativos (situações específicas)!